Eu tinha uns seis anos, era antevéspera de Natal e eu já havia concluído as tarefas impostas como condição para o bom velhinho aparecer. Sim, aparecer, deixar sinais já era algo muito positivo, visto que naqueles tempos os presentes eram mais singelos e a euforia ficava mais na expectativa, nos preparativos do que para o gran finale.
Fui me dependurar na cerca, de arame (não farpado) que fazia a divisa, era o point meu e da vizinha, que tinha uns três ou quatro anos a mais. Ali, a gente, cada qual do seu lado, trocávamos muita informação. Era um grito e estávamos lá, as duas. O engraçado é que não tínhamos o hábito de brincar juntas, afinal ela era um pouco mais velha, então fora de cogitação, para ela, no caso.
Me balancei para frente e para trás e gritei a plenos pulmões seu nome, e prontamente ela apareceu. Começamos com amenidades, e aí muito animada falei dos preparativos para receber o Papai Noel. Ela me olhou séria e no auge da sua sabedoria tascou:
- Papai Noel não existe, sua boba, é o pai e a mãe da gente que faz tudo.
Claro que discuti, argumentei, mas saí derrotada e também desconfiada que poderia ser verdade. Foi demais pra mim, levei muitos anos para superar, talvez ainda não tenha superado completamente. Nunca falei a espeito com meus pais, ou outra pessoa da família. Engoli o engano, a decepção.
Papi Noel, hoje sei que tu existe, e já me mostrou tantas vezes que gostaria de poder voltar e falar para a Marcia criança, que está tudo bem, que dá para confiar nas pessoas, e que decepções fazem parte, e tudo o mais...patati, patatá...e ela já sabe disso...sabe inclusive onde ele mora...e que também aparece fora do calendário...
Obs: Não encontrei imagem de criança pendurada na cerca de arame, essas sutilezas, esses detalhes fazem a diferença. Na cerca de arame é outra emoção...
Feliz Natal! 🎄🎅
Publicado em Dezembro de 2022
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